J-Hero, você abriu… e nós viemos.

Lançado em 10 de agosto de 2022, a antologia tailandesa School Tales era aguardadíssima pelo publico amante de terror e horror. Produzida pela Netflix e composta por oito episódios, a série baseada em uma série de quadrinhos do gênero é dirigida somente por orientais.

Dizem que coisas estranhas que não podem ser explicadas acontecem em todos os lugares. Um mistério sobre o que está além da morte. Existem histórias de fantasmas em todas as escolas. Elas são contadas durante o dia, de um estudante para o outro, de geração em geração. São contadas, recontadas, torcidas e distorcidas até perderem sua origem. Histórias de fantasmas são criadas a partir do escuro, do medo enraizado no coração dos alunos quando imaginam a escola a noite como um reino onde os espíritos ficam vagando. E não é um lugar onde as pessoas querem ficar. Aí, ela se torna um lugar para fantasmas.

School Tales, Episódio 8

Estilo original

Pessoalmente, comparo a série com os clássicos americanos conhecidos como Goosebumps. Enraizado no gênero de terror, a assinatura lançou 62 livros, uma série de televisão e dois filmes (até então) com um teor suave e adolescente. Sendo a segunda série de livros mais vendida da história (perdendo somente para Harry Potter), essa ideia de terror para todos atrai o público aficionado e as pessoas que ainda temem se aventurar no gênero.

Obviamente não se pode caracterizar School Tales como “terror que também é engraçado”, mas é possível sentir a quebra do clima aterrorizante e tenso nos momentos de drama estudantil. Em termos de trama, os episódios dificilmente são assustadores, já que são carregados com toda a carga dramática majoritária das consequências do bullying. Mesmo assim, a série diverte e surpreende em alguns aspectos, enredo e efeitos especiais que amantes do terror e horror ainda vão se interessar. No entanto, não espere críticas bem construídas ou enredos profundos, esta antologia é algo leve para ser assistido com leveza equivalente.

Senta aqui pra assisti cum nóis.

Ambientação

Um dos pontos mais interessantes de toda a série é a ambientação. Por se tratar de lendas tailandesas que se passam em escolas, todo o clima e ambiente precisa ser coerente. Alunos precisam parecer frágeis e inexperientes, intervalos são momentos de comunhão sem supervisão e o corpo docente precisa estar presente nos momentos certos.

Porém, o que mais chama atenção são os locais escolhidos para filmagem. Quase todos os takes são gravados em ambiente escolar tailandês e, portanto, podem ser vistas as estruturas arquitetônicas e precárias inerentes ao sistema público do pais. Algumas cenas são bem familiares para aqueles que estudaram em colégios públicos no Brasil, já que o sistema escolar dos países se assemelham em alguns aspectos.

Mas nem tudo são flores. É preciso respirar e relevar a quantidade de salas e setores abandonados no colégio e a liberdade com a qual os alunos transitam nos locais mais inóspitos. Nada que atrapalha a experiência, mas prepare-se para se surpreender com a displicência retratada na série e o quanto os professores e demais profissionais não se importam com sujeira e perigo.

Maquiagem e efeitos

Um bom susto, aquele que se torna memorável, precisa vir acompanhado de um belo efeito ou maquiagem. Aqui temos de tudo. Em resumo, quase todos os efeitos especiais que precisam de computação gráfica são bem ruins e beiram a galhofa (acredito que isso seja parte do porquê eu chamo a série de Goosebumps oriental).

Todavia, temos os efeitos práticos. Meu amigo… São muito bem feitos e merecem aplausos. Aliados com cortes precisos de câmera, são responsáveis por aqueles momentos em que você precisa retornar a cena para conferir se ninguém se feriu de verdade.

Podolatria, a gente vê por aqui.

Maaaaaaas, como estamos bem críticos, a maquiagem não pode passar desapercebida. E infelizmente ela não consegue passar mesmo.

O exagero nos tons de roxo, a maquiagem carregada e as tomadas estáticas deixam claro a falta de esmero recursos para uma melhor apresentação. Muitas das vezes, a vontade de usar a maquiagem crua sem o efeito prático em conjunto deixa a cena tão descarada que não há clima para a surpresa ou horror. Mesmo as cenas de sangue que tentam ser extremas são arruinadas com tomadas lentas que deixam claro o material artificial utilizado para realizar a produção.

Dublagem

Um dos pontos fortes da série são os responsáveis pela dublagem. Como se tratam de alunos em ambiente escolar, nada melhor do que uma linguagem condizente com o ambiente. Desde gírias atuais a trejeitos do cotidiano podem ser ouvidos e passam praticamente desapercebidos por nós telespectadores. Além disso, todo o som ambiente foi preservado deixando todas as risadas, gritos e demais sons adicionados bem mais naturais.

Melhores episódios

Se for preciso escolher e separar o joio do trigo, é possível ressaltar e indicar alguns episódios. Em especial, dois conseguem mesclar enredo, atuação, ambientação e, claro, terror na medida certa: Curse (episódio 7) e A Walk in School (episódio 8).

Em Curse, acompanhamos Korn, um garoto inteligente que sofre bullying de todos do colégio. No dia de uma importante prova, ele é amarrado e forçado a entrar em contato com a lenda da antiga enfermaria no colégio.

O enredo e atuação dos jovens atores protagonizam uma trama simples e cativante enquanto constroem um clima de mistério perante a enfermeira amaldiçoada. A maquiagem é uma das melhores, e os efeitos práticos completam as brechas. Aqui os efeitos especiais são utilizados em tomadas escuras e que não deixam exposta sua utilização. Para fechar com chave de ouro, a conclusão da história, mesmo que clichê, entrega um bom episódio com reviravoltas e envolvimento emocional.

Em A Walk in School, dois amigos de longa data visitam lugares dito como assombrados para provar que fantasmas não existem.

Sendo o episódio que mais se utiliza de tecnologia, é também o mais cativante e envolvente. Os protagonistas, ao falarem com seus espectadores em live, parecem quebrar a quarta parede e consequentemente envolvem quem assiste de fato. A trama é gravada em tom de documentário amador, e qualquer falha passa desapercebida já que são esperadas.

O enredo é bem construído, e o envolvimento com os poucos personagens acontece naturalmente já que em todo momento eles estão “falando conosco”. Toda a história é construída aos poucos para um grande ápice final que apesar de ser fanfarrão é super honesto.

Os efeitos são sem sombra de dúvida os melhores de toda série. Tanto efeitos práticos quanto efeitos gráficos são muito bons e bem executados entre cenas escuras e com pouca luz. O medo aqui está em mostrar realmente o que persegue os personagens, e o diretor não tem medo de repetir as cenas em que os algozes aparecem e simplesmente encaram suas vítimas.

Conclusão

Como o próprio subtítulo sugere, School Tales é uma oportunidade para se aventurar no gênero — ou melhor, para convidar os mais medrosos a se aventurarem. Suas tramas simples, seus episódios despretensiosos e suas histórias independentes divertem até mesmo os mais exigentes.

Contudo, é importante ressaltar que a série é recomendada para maiores de 18 anos já que apresenta violência extrema e temas como bullying e sexualidade.