(Bem vindos a essa Hikari especial sobre as coisas ecchis! Nyaa!)

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Às vezes me pergunto se realmente Hideaki Anno não estaria 100% certo nas suas palavras sobre o futuro da indústria dos animes.

Você pode dizer: “Saylon, ainda nessa?! Desencana! Você deve falar de outras coisas!”. Mas gente não tem como deixar de comentar sobre isso quando vemos o que as produções reservam para nós, mas veja bem, o que estou querendo dizer é… Ah, melhor não enrolar! Vou comentar a partir de um exemplo.

Na semana passada, o hiato deixado por alguns animes da temporada de Primavera 2015, que chegou ao fim, permitiu às produtoras lançarem seus OVAs de outros títulos e no caso em específico desta publicação falo do anime Shinmai Maou no Keiyakusha (no ocidente, Shinmai Maou no Testament). Título da temporada de Inverno 2015, o anime que é do gênero ecchi causou muito movimento no Japão graças a sua animação ousada nos momentos do erotismo.

Erotismo é um elemento intrínseco ao ecchi, se não existir não há porque considerar um anime parte desse gênero. Ecchis não são ruins. Afinal, qual o jovem que a flor da idade não gosta de experimentar sensações/emoções que mexam com seus instintos mais secretos?

Assim como um shoujo ou um seinen fazem você “viver uma realidade”, o ecchi tem esse papel social na construção do caráter pertinente ao jovem. Principalmente o jovem nipônico, quando vemos as redes de TV com reportagens especiais sobre a adolescência e os relacionamentos no oriente somos bombardeados com informações que dizem que o jovem japonês está evitando mais e mais uma vida amorosa/sexual, segundo as próprias reportagens, isso é reflexo do uso da tecnologia e não consigo provar o contrário disso, contudo não consigo acreditar piamente no que é dito…

No início do ano, Shinmai Maou no Keiyakusha (anime adaptado de light novel homônima) ousou por trazer um erotismo muito elaborado – se é que me entende.

Quem assistiu percebeu que nada foi tão cheio de uma expressividade sexual do que os diálogos e ações envolvendo Naruse Mio, Toujou Basara e a Sucuubus Maria. Uma dessas que para mim foi marcante, foi a seguinte frase: “Nunca imaginei que a Mio-sama pudesse vir nove vezes!”, Maria fala isso após literalmente Naruse alcançar o orgasmo por nove vezes, graças aos “trabalhos” delicados das mãos de Toujou. Impactante!

(A imagem perfeita de um paraíso para amantes do Ecchi! O nariz chega a sangrar! Rsrsrsrsrs)

To Love Ru, High School DXD, High School of the Dead, Date a Live, Kiss x Sis, Maken-ki e outros títulos do ecchi são sempre marcantes por sua expressividade no gênero, entretanto Shinmai Maou no Keiyakusha parece estar caminhando para muito mais além se mantendo soft por várias vezes, o ecchi nos animes se reservava a aparição de peitos (muitos peitos por sinal), diálogos desconcertantes sem conseqüências embaraçosas, formação de haréns onde a comédia corre solta e mais um pouquinho de peitos. A volúpia se contentava em satisfazer os fãs assim.

Ecchi, é bom lembrar, é um gênero associado principalmente com animes, mangás, ou jogos que apresentem a sensualidade como principal tema, em contraste com o gênero hentai, usado para aqueles que apresentam sexo explícito, geralmente têm censura, mas alguns não têm, porém, sem censura, desde que não haja relação sexual explícita, se torna ecchi. Não é um gênero para crianças, sendo geralmente indicado para homens entre 16 à 24 anos.

Assim sendo, Shinmai Maou no Keiyakusha viveu seu momento de polêmica quando teve seus episódios severamente censurados pela mídia japonesa. Lógico que a Production IMS e a Kadokawa (responsáveis pela animação) responderam de forma rápida e divertida.

Passaram a exibir seus episódios com uma censura cômica onde os chibis dos personagens apareciam impedindo a visão das cenas eróticas, depois lançou os seus Blu-Rays, sem a censura – qualquer tipo dela – para agradar mais ainda os fãs.

Mas no último dia 22 de junho de 2015 as produtoras se superaram, com o OVA do anime intitulado “O Doce e Difícil dia de Toujou Basara” vemos umas coisas que, sendo sincero, até mesmo o fã de ecchi deve concordar que estão além dos padrões.

Dividido em duas partes – como todo episódio de 23 minutos – a animação trás, no primeiro momento, as loucuras da succubus Maria. Em sua sede eterna por erotismo, a hipersexual (ninfomaníaca) não mede esforços para provocar a mestra e amiga Naruse Mio dentro de seus sonhos se disfarçando de Toujou Basara e realizando com ela os mais libidinosos atos.

O clímax se apresenta quando Maria chega a colocar uma banana entre suas pernas – nitidamente representando um órgão masculino – e posiciona a mestra (que devo lembrar, estava dormindo) para literalmente introduzir a fruta. Ela chega a indagar: “Será que estava pensando mesmo em colocar essa banana na ‘caverna’ da Mio-sama”. Cara! O detector ecchi estourou nessa cena! Se não fosse a intervenção de Basara, acabaríamos vendo um ato sexual ‘Yuri’ diante da tela.

(Essa succubus loli e ninfomaníaca pega pesado quando se trata de inovar no erotismo)

No segundo momento é que as coisas ficam realmente tensas, Basara se encontra com Hasegawa-sensei, a enfermeira da escola que ele frequenta.

A mulher, bem mais madura que as outras que cercam o protagonista, envolve-o em uma situação constrangedora após ficar presa em um maiô e aí começa os preparativos para um clássico dos hentais, sim, eu disse dos hentais e não do ecchi.

Ele tira o maiô dela vendo mais do que devia e ela, em agradecimento, o convida para jantar na sua casa. Já depois de mostrar os dotes culinários e domésticos ao garoto ela o seduz da melhor maneira possível. Por fim… Sim, por fim chegamos ao clímax! Na velha e já manjada cena do banho, Basara é surpreendido pela enfermeira que entra no banheiro e joga toda a sua presença para ele, que acaba não negando fogo e… Sim, não há o ato consumado diante da tela, mas as preliminares são feitas de forma bem explícita.

(A velha cena do banho. Não vou mostrar de mais porque né… Essa rádio é de família!)

Devido a isso tudo, sinto-me livre a classificar este OVA, e o anime todo, em um tipo de Pornochanchada a La Japão.

Para os novos e desavisados, Pornochanchada é um gênero de filmes brasileiros que foi bastante popular na década de 1970 e início da década de 1980. Eram em geral filmes de baixo orçamento que combinavam erotismo (daí o porno), humor escrachado (chanchada), palavrões e roteiros simples e popularescos.

Foram produzidos em sua maior parte no centro de São Paulo, na região conhecida como Boca do Lixo (hoje Cracolândia), e seus principais ícones foram David Cardoso, Helena Ramos e Matilde Mastrangi.

Sexo, sexo mesmo não teve em Shinmai Mahou no Keiyakusha, mas se compararmos à proposta do gênero surgido no cinema brasileiro podemos levantar um questionamento que vai além do anime a abrange todo o universo do ecchi. Hideaki Anno disse que a indústria estava produzindo mais do mesmo roteiros que não inovam e o ecchi parece ser o gênero que mais sofre com isso.

(Não teve sexo, mas meu amigo que frase hein?!)

Ultimamante vemos sua utilização em vários outros animes, as produções que são essencialmente shounnen, jousei, gore, seinen, mahou shoujo etc., todas já possuem algum elemento ecchi em suas narrativas, já o ecchi é prejudicado ao ganhar o contexto que pertencem tão somente ao hentai. Se a indústria dos hentais faz sucesso, esse não é o foco, mas deixar que suas tramas e particularidades invadam outros setores da animação mostram o quão decadente pode se tornar a animação japonesa.

É claro que há pessoa que não gostam de ecchi, pois dizem achar tão sem propósito quanto assistir um hentai, mas o ecchi é um gênero legítimo com suas peculiaridades e estratégias. Igualar os dois campos da animação é cometer um erro. Erotismo e Pornografia se diferem amplamente quanto à proposta.

Erotismo busca despertar a sexualidade e sensualidade a partir da existência do ser social, no caso do ecchi isso é feito envolvido com muita comédia ou drama (exceções como Yosuga no Sora e algumas outras visual novels). A Pornografia busca atingir um público que consome o sexo como um produto do capitalismo mas se isso é repugnante… A coluna não vai deixar seu parecer sobre o tema, pois isso é assunto para outros textos.

(O anime Cross Ange é uma prova de que está havendo uma distorção dos papéis entre o ecchi e o hentai, de característica ecchi, durante a animação temos cenas que vão muito além do erotismo com comédia)

O que se quer levar a pensar. A LUZ que a Hikari que lançar sobre otakus é: Será que não se está passando dos limites entre a fronteira do ecchi e o hentai nos animes?

Existem padrões, características para estes gêneros e desrespeitá-los ou misturá-los pode colocar em risco a idoneidade da indústria cultural quanto formadora de opinião. Não podemos pragmatizar um limite, mas a própria construção emotiva das narrativas já fazem isso.

Que sexo é bom, ninguém discorda – tanto quem já fez e quem não, mas está afim, entretanto banalizá-lo devido a falta de criatividade pode levar os animes (e toda a sua indústria) a levantar uma crise muito maior do que o próprio Hideaki Anno previu. Uma crise de valores, que poderá abalar o Japão e estender suas conseqüências para o resto do mundo.

É isso pessoal. Espero que o debate se ascenda e todos possam refletir sobre o tema!

Sayonara!