(Capa do capítulo final de Fairy Tail de Hiro Mashima agradece aos fãs pelo longo tempo juntos)

 

Se você reclamar que esta matéria está atrasada é porque no mínimo você não tem um pingo de compaixão com o redator e não sabe esperar que ele se recupere mentalmente após um fiasco. Sem contar que ele foi pesquisar para trazer boas informações.

Enfim, na semana passada após onze anos de trajetória chegou ao fim o mangá Fairy Tail. Se mostrando até agora o maior sucesso de Hiro Mashima, que havia debutado com The Groove Adventure RAVE (ou Rave Master no ocidente), este shonen mangá com elementos de aventura, drama, ecchi e romance acabou de forma muito simplória. Antes tenho que relembrar aqui que essa é uma opinião pessoal, mas que está refletida também na enxurrada de comentários absorvidos após visitar grupos e grupos de otakus nas redes sociais.

O capítulo 545 – último da série – veio recheado com 43 páginas (quase o triplo do comum por capítulo) para fechar a trama dos jovens magos da guilda Fairy Tail e mesmo assim não cumpriu seu papel. Tudo isso se deve a maneira como o próprio Hiro Mashima construiu sua trama. Desde a segunda metade do mangá (após o Time Skip) ele finalmente dava início a amarração das cordas soltas apresentadas na trama. Elementos como a origem dos dragons slayers, a história de Zeref e seus demônios e o passado de Acnologia começavam a se encaixar. Personagens sempre recorrentes, como Jellal, ganharam um contexto mais emblemático do que ser simplesmente um vilão (ou capacho dele). Os demônios dos livros de Zeref e até a guilda Oración Seis passaram a fazer mais sentido na obra.

Durante o arco dos Jogos Mágicos, a batalha contra os dragões do passado foi essencial para explicar o conceito de viagem temporal e o poder dos Espíritos Estelares das chaves douradas de Lucy e assim nos deixar claro que os dragons slayers não eram seres deste mesmo tempo de vida que os demais magos que fomos conhecendo.

A volta no passado da guilda (essa a através do spin-off Fairy Tail Zero) foi o complemento necessário para entendermos o relacionamento entre Mavis e Zeref – que diga-se de passagem foi forçado demais e improdutivo para a trama -. Enfim, quem acompanhou o mangá desde o início, como eu também fiz, deve ser consciente que Fairy Tail não era de um todo ruim. Hiro Mashima sempre teve um problema forte no quesito construção e resolução de conflitos narrativos, mas conseguia se manter ainda de pé a proporção que o mangá avançava.

Contudo ele perdeu totalmente a noção quando construiu o arco Alvarez e jogou tudo isso de uma única vez em revelações incongruentes, incompletas e nada espontâneas dentro da trama. O elemento da "Força da Amizade" sempre recorrente na obra do autor não é um ponto negativo, mesmo assim muitos fãs se queixaram disso. Eu compreendo e não nego, pois o problema não era esse recurso ser usado, mas sim o seu uso abusivo em situações onde a tensão da narrativa dispensava-o

(Ficaremos com saudades desses momentos cômicos que só a Fairy Tail sabe fazer)

 

É importante destacar que em Fairy Tail pouquíssimos personagens destaques morreram [mais à frente citaremos um exemplo]. Se quando em Naruto a morte de Neji nunca se mostrou realmente importante já a de Jiraiya foi tão necessária (mesmo sendo negada por todos nós), no mangá de Hiro Mashima quase nada desse recurso foi aplicado. Quando um possível ato de altruísmo era detecado na trama nós nos decepcionavamos alguns capítulos, ou mesmo páginas depois, ao ver que ninguém havia morrido. A morte de pessoas próximas são gatilhos para amadurecimento e reflexão das personagens e se isso não acontece o mangá fica muito mais infantil do que se deve ser. Mesmo entre os antagonistas poucos morreram ao longo de toda trama passando quase sempre pelo caminho da restauração e concluindo o mangá como mocinhos.

Agora voltemos ao capítulo final. Desde quando começou o arco dos Demônios de Zeref (guilda Tartarus) Hiro Mashima – que já abusava a algum tempo do fanservice para fazer que seus fãs continuassem presos a trama – passou a reforçar o argumento do romance eu seu mangá. Alguns possíveis casais shippados pelo público davam pinta de se concretizar. Para este comentário me reservarei apenas no mais forte deles: Gray e Juvia. O relacionamento entre Gray e Juvia deixava de ser cômico e unilateral (da parte da Juvia) para realmente existir um elo entre os dois. Gray passou a vê-la diferente depois dos acontecimentos envolvendo seu pai. Daí para frente tudo foi ficando mais forte. E já não era mais incomum vermos os dois juntos.

E aí vem o grande dilema! Logo no começo do arco Alvarez o mago Gray havia prometido a Juvia uma resposta e… Sim meu caro leitor, no capítulo final 545 o mago da manipulação do gelo não responde a jovem diretamente. Ele o faz nas entrelinhas, mas sem muita expressividade deixando um gosto amargo na boca de que estava esperando um confissão mais explícita e condizendo com o ocorrido cerca de mais de quarenta capítulos atrás. Aí fica a pergunta: Hiro Mashima se esqueceu desse diálogo ou é incompetente ao fazer um digno final fechado? Sim, pois os demais casais ficaram com esses finais em abertos. O mais perto de ter algo concreto são insinuações da Lucy sobre conversas secretas que a Wendy (com seu poder de dragão) teria ouvido entre Gajaeel e Levy – que ao que parecem estavam em relacionamento sério e com um bebê a caminho -, ou Evergreen e Elfman – que já davam pinta de ficariam juntos.

(O dragão de ferro teve seu happy end com a maga da escrita sólida?)

 

Muitos casais ficaram de fora e sem finais e muitas personagens ficaram sem explicações. Quanto a isso fica a resignação contra a falta de um final para Aquarius. Se todos as personagens que deveriam ter se sacrificado ficaram vivas por que somente o espírito estelar de Aquário teve que ficar sem um happy end ao fim do mangá? Sendo ela uma amiga querida da protagonista isso ficou muito pesado para Hiro Mashima, que nem mesmo citou a personagem ao longo das 43 páginas publicadas.

Enfim, Fairy Tail sem dúvidas é um bom mangá, contudo seu final foi um fiasco. Mesmo assim seu saldo é positivo. Em fevereiro de 2017 já contava com mais de 60 milhões de volumes vendidos e se igualando à Rurouni Kenshin e Full Metal Alchemist, que fecharam suas publicações com essa mesma média de valores (entre 60-75 milhões de cópias vendidas). Entretanto falando de narrativa ele é fraco como foi RAVE e mostra a deficiência que Hiro Mashima tem nesse quesito. Vale destacar que ele vai lançar um novo mangá no ano que vem.

Para os fãs da franquia fica o alento do anúncio da terceira fase do animê adaptando justamente esses momentos finais do mangá. Se você realmente gostou de Fairy Tail consegue relevar esses pontos aqui levantados, mas tem que admitir que o final ficou muito aquém do que se esperou. Só não force a barra e diga que esperava que o Natsu se confessasse ou deixasse no ar alguma possível possibilidade de dizer a Lucy que gostava dela de uma maneira especial. Se você chegou a cogitar isso você nunca compreendeu Fairy Tail.

Até a próxima e… Sayonara!

 

(Cenas finais de Fairy Tail com destaques diferentes para cada momento da trama. No primeiro temos o agradecimento de Lucy e a piada mortal que segue nos quadros seguintes onde os mais desatentos podem chegar a imaginar uma confissão de Natsu – puro amadorismo -. Na outra a típica cena de encerramento de shonen mangá onde o chamado para a aventura é acentuado nas figuras alegres dos protagonistas.)