Em 2008, ano em que Call of Duty já estava bem estabelecido no mercado ocidental, a SEGA lançou Valkyria Chronicles. Ele apresentou uma abordagem bem singular para um jogo de guerra e contou com aspectos bem pouco explorados no gênero, como uma narrativa profunda e o desenvolvimento de múltiplos personagens.

O jogo retrata um período análogo à Europa da primeira metade do século XX. Sua narrativa sobre um exército imperial se expandindo numa disputa por um recurso energético encontra vários paralelos na história do mundo real e se faz valer de recursos de fantasia para conduzir sua narrativa, destacando-se positivamente em inúmeros aspectos.

Jogabilidade única!

Valkyria Chronicles é um jogo de guerra que não utilizou do modelo first-person shooter para entregar sua experiência. Seu foco tampouco é baseado na movimentação frenética e na precisão de sua mira em sequências explosivas. Na verdade, o título é um jogo de estratégia em turnos que se utiliza de um sistema próprio, chamado BLiTZ, em que você move e posiciona suas tropas, uma de cada vez, ao longo da sua jogada.

O jogo abre mão dos mapas isométricos e dos grids de movimentação, te dando liberdade dentro de mapas 3D complexos, pelos quais você se movimenta dentro da capacidade de movimentação de cada personagem. Uma vez por movimento, sua unidade tem a capacidade de se mover e de atacar.

Mesmo dividido em turnos, com movimentações individuais de suas unidades, a batalha é flexível e orgânica, uma vez que as unidades, enquanto posicionadas, continuam atacando enquanto existirem inimigos em sua linha de visão.

O jogo conta com a existência de cinco classes de infantaria e tanques de guerra, além de contar com vários personagens elencáveis para sua tropa. Cada personagem tem traços de personalidade próprios que influenciam diretamente seu desempenho em batalha. Por exemplo, personagens conversadores podem atrapalhar a mira dos colegas, enquanto personagens sujeitos a ataques de pânico não conseguem realizar suas ações efetivamente enquanto cercados de inimigos.

O sistema usado é rico e intrincado. Seu início é bem intuitivo, e as primeiras fases do jogo te desafiam a usar de todas as suas capacidades para passar das fases. O final do jogo é bem exigente com as habilidades do jogador e te força a desenvolver um raciocínio rápido e afiado dentro das mecânicas do jogo.

Arte e identidade visual

Valkyria Chronicles possui uma identidade visual muito forte. As artes conceituais são limpas e bem expressivas (e inclusive foram muito bem adaptadas para a versão em anime de 2009, Senjō no Valkyria), mas é na renderização dos objetos dentro do jogo que a arte se destaca. Usando um motor gráfico próprio, todo o traço do jogo emula uma pintura à lápis feita à mão.

Personagens e cenários parecem saídos de um livro de colorir plenamente detalhado. As cenas são belas, e tanto as paisagens naturais quanto os ambientes urbanos são bem preenchidos e possuem uma qualidade gráfica impecável. Quando você leva em conta ainda toda a riqueza arquitetônica empregada na criação do universo do jogo, é indiscutível a competência técnica com a qual o jogo foi realizado.

E se não bastasse toda uma arte visual tão estimulante, o trabalho da voz (tanto em japonês quanto em inglês) é de alta qualidade, e a trilha sonora é espetacular, fazendo um equilíbrio entre uma atmosfera de espírito aventureiro e uma crescente tensão.

Narrativa e personagens

O jogo se inicia apresentando a relação entre Welkin Gunther e Alicia Melchiot. Embora Welkin seja o líder do esquadrão, Alicia se desenvolve como protagonista na trama e tem um aprofundamento intenso ao longo da história. Apesar de os dois terem uma trama sensacional, a narrativa do jogo vai muito além e apresenta um grupo inteiro de personagens interessantes e dinâmicos.

São diferentes personalidades, vários conflitos entre as ideologias dos membros do seu pelotão e, inclusive, uma grave tensão racial que permeia toda a narrativa e se reflete diretamente no seu pelotão (e na jogabilidade, de forma geral).

O jogo apresenta mecânicas de RPG ao permitir que seus personagens subam de nível enquanto adquirem experiência nas batalhas e desbloqueia diversas funções táticas para o jogo, adicionando novas camadas de profundidade até os últimos níveis da campanha.

Por fim, como a maioria dos J-RPGs, o Valkyria Chronicles tem seus atos finais numa escala muito maior do que os eventos iniciais, então um chefão final semidivino é bem previsível na conclusão do game. Ainda assim, a narrativa do jogo é convincente, e o desenvolvimento dos personagens é louvável.

Veredito

Prós:

  • Jogabilidade satisfatória e de fácil aprendizado;
  • Fases da campanha muito em estruturadas;
  • Arte sensacional;
  • Apresenta vários níveis extras opcionais que puxam as mecânicas ao extremo.

Contras:

  • Os turnos dos adversários são longos e, por vezes, frustrantes de assistir.
  • Os níveis mais altos podem exigir um pouco de grind para serem executados mais facilmente.

Conclusão:

Valkyria Chronicles é um jogo sólido que inaugurou uma franquia de extremo sucesso. Ele é tanto um excelente jogo de tiro para quem queira experimentar algo com mais tática quanto um excelente jogo tático para quem quiser algo mais movimentado. Um equilíbrio pleno entre essas duas abordagens, muito bem amarrado com uma arte mais do que prazerosa aos olhos.

Notas

  • Gameplay: 9
  • Visual: 10
  • Continuidade: 8,5
  • Nota final: 9,5