Não poderia deixar de batizar este artigo com o nome de uma das fanpages mais engraçadas e críticas que a comunidade otaku brasileira já produziu no Facebook. "O mercado de mangás que deu certo" é uma expressão de valor forte que se contrapõem aos constantes erros e acertos das editoras de quadrinhos japoneses em solo nacional. Nascida de uma ironia, a expressão, no entanto, nunca foi tão verdadeira quanto no contexto atual.

O ano é 2018 e sou corajoso o suficiente para afirmar que sim: o Brasil já pode dizer que tem um mercado de mangás. Antes, o que era uma proposta, uma expectativa, deixou de ser apenas aposta para se consolidar. É certo que ainda temos muitas coisas a melhorar, consertar e adequar para que seja o mais qualificado e eficiente possível para fãs e consumidores (em especial). Sempre haverá comentários, críticas, pitacos – o que é válido, saudável e necessário -, mas agora não há mais como negar que o nosso país tornou-se um mercado efervescente para esse segmento midiático-cultural.

Na tarde deste sábado (07) as principais editoras do cenário brasileiro de quadrinhos japoneses fizeram mais que simples anúncios em suas apresentações no Anime Friends 2018. Mostraram que tem interesse em lucrar de verdade e que para isso se esforçam um pouco mais para atender as expectativas de seu público. Mostraram também que o medo de perder um nicho para a concorrente pode – e deve – ser superado com estratégias de marketing e negociações bem realizadas.

Editora JBC, que vem nos últimos anos se especializando em atender um nicho mais seletivo dos consumidores de mangás (com versões BIG, boxes e títulos em megastores) deu seu primeiro passo para um sonho antigo: publicar mangás nacionais. Ontem a editora anunciou seu primeiro grande título para o selo Henshin Universe, que se reserva a esse cenário local de mangás, com um clássico da Cultura Pop: Jaspion. Fábio Yabu e Michel Borges (conhecidos pelo seu quadrinho Combo Rangers, pela própria JBC) serão os responsáveis por lançar uma versão brasileira em mangá do herói de tokusatsu mais famoso dos anos 1980.

Numa ação conjunta com a Sato Company (que no começo do ano anunciou um filme longa-metragem do herói feito no Brasil), a editora consegue junto à TOEI Animation o direito de publicação de uma obra autoral a respeito de um ícone japonês. Já publicando Ultraman em seu catálogo a JBC dá a deixa para um nicho de mangás tokusatsus no país, muito aguardado por fãs do gênero.

A editora, que semanas atrás iniciou a publicação semanal dos capítulos de Eden Zero (novo mangá de Hiro Mashima autor de Fairy Tail) também aposta no mercado digital. Em 2017 já havia inaugurado seu selo para e-books com alguns títulos da casa e mostrou interesse em se aventurar pelo nicho ao conseguir um feito inédito: publicar Eden Zero de forma simultânea com o Japão. O preço dos capítulos é que não agrada a muitos (variando entre R$ 4 e R$5), mas acho que a aquisição é opcional. Como disse acima, a Editora JBC deixa a entender que foca num nicho de colecionadores e que isso reflete-se diretamente em preços mais elevados. Já na questão do digital… Se você não tem costume para usar esse tipo de serviço deve imaginar que ela não é tão barato assim. Concordo que pagar metade de um mangá comum em apenas um capítulo parece um exagero – até porque a empresa não perde com títulos encalhados – só que resta saber que tipo de negociação a contrapartida (Kodansha) exigiu para licenciar a publicação. Tudo deve ser pensado como uma experiência para popularização do formato, o que consequentemente – caso aceito – será convertido em valores mais acessíveis.

E a editora não cansa de surpreender. Após ver a NewPOP ganhando em disparada muitos adeptos graças ao mercado de light novels (com seu selo NewPOP Novels e títulos como No Game No Life, Re:Zero e agora Toradora), a JBC finalmente entra em definitivo no segmento – após algumas tentativas anos atrás sem muito sucesso – e nos presenteia com uma light novel super solicitada: OverLord. Em geral: está de parabéns!

Poderia encerrar esse artigo comentado apenas com isso, mas a Panini – grande marca do mercado de quadrinhos mundial – não deixa barato e teve a mesma ideia que a concorrente. No mesmo evento, no mesmo dia, na mesma intensidade. Assim pode-se dizer sobre o que foi o anúncio de Sword Art Online – a light novel – por parte da editora. Inaugurando seu selo de light novels, a Panini atende a pedidos de cinco anos e corrige um erro medonho de seu setor de marketing e conteúdo. Com previsão de termos Aincrad ainda em 2018 (são dois volumes na primeira história) finalmente o fã brasileiro de SAO vai ter a oportunidade de ler a novel que foi o estopim para o Isekai no mundo otaku na atualidade (na atualidade sim, pois Isekai não é tão novo como imagina).

Após um mangá muito contestado que adaptava a light novel, a própria Panini foi as negociações com a Kadokawa e traz a light novel de Reki Kawahara para o mercado brasileiro. A investida no segmento é tanta que outra obra foi anunciada por eles: The Last: Naruto the Movie. A versão adaptada em livro do último filme da série Naruto Shippuden é outra promessa de sucesso para os fãs-consumidores.

Dito isso posso encerrar reafirmando que sim, agora temos um mercado de mangás. Parece que finalmente não somos mais vistos como possibilidades, mas de fato como certeza de lucro para os licenciadores japoneses o que consequentemente se reflete na variedade de opções e formatos de consumo dessa mídia cheia de nuances que é o mangá. Ambas as editoras da tríade principal do nosso mercado – JBC, Panini e NewPOP – estão cheias de títulos e ações de interesse para o público. Compete a elas, no entanto, fazer com que produtos e serviços cheguem em nossas mãos com qualidade e seriedade.

Se você é que reclama de valores… Entenda: nem tudo é perfeito. Concordo totalmente com quem reclama de preços altos e variações na tabulação de valores dos mangás já publicados quando não se tem um trabalho que realmente mereça esse aumento justificativo. A Panini é o maior alvo da reclamação de muitos. Entretanto não se pode esquecer que não é uma escolha apenas das editoras. Depende-se muito do licenciadores, sistema de distribuição, setor industrial/matéria-prima, e valorização monetária. Tudo isso influencia na movimentação de uma editora que só agora, ao fim da segunda década do século XXI, dá seus passos para entrar um estado de competição efetiva e reconhecida por seus investidores.

Até a próxima e… Sayonara!