"Liderar é o ato de guiar, de conduzir, ou seja, o papel do líder seria conduzir o grupo"

(BARROS, 2017, p.24)

 

Com essa frase – baseada nos pensamentos de Lacombe e Heiborn (2008) – o pernambucano de Caruaru (a 135Km da capital Recife), Jhonatan Julian da Silva Barros inicia um capítulo de seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) dedicado a analisar o conceito de liderança. Mote importante para áreas como a Administração e o Marketing. A diferença é que o jovem pesquisador resolveu ilustrar seu estudo e optou pelos personagens Seiya de Pégaso, Shiryu de Dragão, Hyoga de Cisne, Shun de Andrômeda e Ikki de Fênix como cases perfeitos para tal.

Faz da séire shonnen de Masami Kurumada desde a sua primeira exibição em 1994 pela TV Manchete, Jhonatan Julian (que tem até o nome da reencarnação do deus Poseidon, que coincidência!) é um rapaz de 26 anos que recentemente concluiu uma das etapas para se formar como Bacharel em Administração pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Mesmo não se considerando um otaku – por julgar que para ser um ele deveria dedicar mais tempo à causa, além de consumir algo que vá para mais que os clássicos do passado – Jhonatan é um grande fã da Cultura Pop Japonesa e mostrou isso ao unir a pesquisa a uma atividade prazerosa.

Em seu TCC de 78 páginas (agora já disponibilizado em vários sites) ele aponta como a animação faz uso dos perfis de liderança e ressalta a importância desse conceito na prática para que objetiva realizar grande feitos no trabalho coletivo. Para ser mais específico, Jhonatan abordou o método do Grid Gerencial, que analisa os perfis conforme combinações entre pontos fortes e fracos do pretenso líder, o grupo de liderados e suas características, além das hierarquias estabelecidas. Esse mesmo Grid Gerencial se apresenta como uma grade (daí o nome) onde os pontos em interseção podem definir as orientações de líderança para Pessoas ou Resultados a ser obtidos. Enfim, nosso foco não é debater a teoria acadêmica abordada por Jhonatan Julian, e sim apresentar os perfis que ele identificou em cada um dos cinco bronze boys. Para isso ele realizou uma pesquisa focal onde seus entrevistados deveriam identificar no grid qual tipo de líder era cada cavaleiro. Vamos lá!

 

Seiya de Pégaso

Seiya foi apontado como um líder cujo o foco principal é o cumprimento de objetivos. Ou seja, é mais orientado aos Resultados do que às Pessoas.

 

Shiryu de Dragão

Por sua vez, Shiriyu foi apontado como um líder oposto à Seiya. Ele seria alguém mais focado nas Pessoas e não nos Resultados.

 

Hyoga de Cisne

Hyoga seria classificado no mesmo tipo de lider que Shiryu pensando primeiro nas Pessoas antes dos Resultados. Contudo o pesquisador aponta que no perfil desta personagem deve se considerar que ele sempre fará isso considerando o grau de afinidade com as pessoas.

 

Shun de Andrômeda

O pesquisador diz que Shun é o que mais se assemelha a Shiryu em termos de perfis de liderança. A diferença está no fato de este ser mais emotivo/sentimental que os demais. Logo pensa primeiro nas Pessoas ao invés dos Resultados.

 

Ikki de Fênix

Ikki é o único que – segundo a pesquisa – compartilha do mesmo tipo de perfil de líder que Seiya. Pensa primeiro nos Resultados e depois nas Pessoas. Só que de uma maneira mais intensa que o santo de Pégaso.

 

 

(Jhonatan e seu TCC junto da pequena coleção de figures e mangás / Arquivo Pessoal)

 

Jhonatan Julian chama a atenção na pesquisa para uma curiosidade: no dia a dia as pessoas reclamam de líderes autoritários e que visam primeiro os resultados em detrimento das pessoas. Contudo, seu levantamento apontou que entre o grupo focal entrevistado Seiya e Ikki são os personagens mais queridos. Pessoalmente falando, eu enxergo isso como o caráter hipócrita da nossa sociedade. Não gostamos de que certas coisas aconteçam conosco, mas não nos importamos de achar aquilo bom e até desejável, contando que não seja conosco. Triste isso.

Mesmo assim, Jhonatan faz uma ressalva, ao dizer que a pesquisa aponta que "na prática nem todo líder autocrático e autoritário é ruim" (BARROS, 2017, p.67). Ele vai mais além de finaliza dizendo que "um líder autocrático não precisa ser apenas que manda, mas sim aquele que está disposto a guiar o público independente da situação a ser enfrentada" (BARROS, 2017, p.67).

Em entrevista para a Rádio J-Hero, Jhonatan Julian falou mais sobre sua pesquisa:

"Bom, do meu trabalho a parte mais interessante com relação ao que eu pesquisei acho que foi o primeiro momento onde estava explicando os estilos de liderança já que os personagens de 'Cavaleiros'  foram usados mais para estar ilustrando esses estilos, e a parte final da pesquisa onde eu mostrei  – ou procurei mostrar – a questão do líder autocrático que é um líder que algumas pessoas consideram ruim, mas não necessariamente seria um líder ruim […]. A liderança é um fenômeno presente em todo lugar", disse Jhonatan Julian ao ser questionado sobre o tema e o corpus analisado.

Jhonatan falou como seu trabalho ficou tão popular:

"Para mim foi muito gratificante ver que meu trabalho conseguiu alcançar todo esse marco, embora tenha sido algo bem pontual.  No primeiro dia que começaram as notícias estourou. Acho que pelo menos uma cem pessoas vieram me adicionar no Facebook querendo saber informações do trabalho, como tinha sido, a nota e tudo mais. Mas agora já diminuiu. Ainda assim foi muito gratificante ter toda essa repercussão. E a divulgação dele começou assim: quando eu concluí tirei a foto da capa do TCC ainda riscado de caneta com algumas correções do meu orientador e postei no meu Facebook e Instagram marcando que estava concluído. Postei num grupo de Cavaleiros do Zodíaco também e aí um jornalista aqui da cidade viu as fotos entrou em contato comigo para fazer uma matéria. Depois eu divulguei nas redes sociais a matéria que ele fez e daí começou o alarde. O pessoal foi compartilhando essa notícia dele aí passou para um jornal aqui da capital Recife, depois veio o pessoal do G1 e então expandiu para o Brasil inteiro.", finalizou.

O jovem pernambucano disse também que antes de ter a ideia já havia visto outros trabalhos acadêmicos que usam elementos da Cultura Pop Japonesa como base para estudo. Vale lembrar aqui que a jornalista Sandra Monte – autora do livro A Presença do Animê na TV Brasileira – começou dessa mesma forma. Seu TCC se tornou em um dos materiais de pesquisa mais consultados por otakus no Brasil. Jhonatan diz que quer continuar nesse mesmo estilo de pesquisa no Mestrado. Quem sabe ele não se torna a próxima referência para outros trabalhos? Boa sorte para ele!

Até a próxima e... Sayonara!

 

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Se está afim de ler o TCC de Jhonatan Julian basta clicar aqui! Eu recomendo!