Amigo da Hikari, todo mês sempre temos uma edição das nossas reportagens especiais #PERFIL, que abordam o cotidiano de qualquer personagem que povoe o universo dos mangás, animes e games que tanto amamos, mas infelizmente peço desculpas por quebrar essa rotina. O assunto desta edição da coluna é muito sério e repercutiu, e ainda repercute, entre todos nós, membros da comunidade otaku mundial.

O animador, Hideaki Anno, famoso por uma das obras mais marcantes da mídia pop japonesa – Neo Genesis Evangelion –, recentemente deu uma declaração que se mostrou bastante chocante para o público otaku, segundo ele, o tempo dos animes estaria contado!

Para ser mais exato, em entrevista à revista russa RIA Novoski, o animador afirmou acreditar em um colapso na indústria nipônica de animes, e que daqui há um máximo de 20 anos é bem possível que o anime como conhecemos não exista mais. Anno defende que para haver um ressurgimento, a indústria precisaria ter que se adequar à novas técnicas (destaque para a computação gráfica), outro ponto abordado pelo artista é o de que a Terra do Sol Nascente perderá o posto de referência sobre o assunto para um dos Tigres Asiáticos: Taiwan.

Ótimos comentários. Todos! Sem sombra de dúvida Hideaki Anno mostra estar preocupado com o futuro da mídia que o consagrou como profissional e que faz parte da vida de milhões de pessoas não só no Japão, mas no mundo inteiro. Contudo, a Hikari encontrou várias brechas em seu argumento.

 

(Hideaki Anno)

 

Antes vamos conferir trechos da entrevista traduzido por vários sites especializados.

“(…) A animação japonesa está em declínio, já atingiu o pico. Depois de um um colapso, provavelmente haverá um ressurgimento… Eu não acho que a animação vai desaparecer, mas talvez possa não haver as condições que existiram até agora que levaram à criação de filmes interessantes… O Japão só vai deixar de ser o centro da animação mundial. Talvez em cinco anos, Taiwan será um centro deste tipo (…)”

 

Assim sendo, vamos comentar o que podemos chamar de “Acertos” e “Furos” no discurso do mestre.

 

Acertos

Hideaki Anno não erra ao afirmar que a indústria japonesa de animação está fadada a estagnação, ultimamente temos visto a falta de criatividade por parte dos produtores, que sem muitas ideias estão priorizando um único gênero de narrativa em suas obras: o ecchi, de cada 40 animes que estreiam em uma temporada, de 15 a 20 são do gênero ecchi, os demais variam entre o seinen, shoujo e alguns shonens, mas mesmo assim há entre eles obras com uma pequena referência ao erotismo animado.

Se posso dar um exemplo vou em 2014 e seleciono Nanatsu no Taizai (The Deadly Seven Sins), um shonen que possui tudo o que o seu gênero permite: aventuras, combates, amizade, magia… Entretanto quem já assistiu o anime não deve se esquecer de cenas em que Meliodas (o protagonista) revela um lado pervertido, bem pervertido mesmo, que dá até vontade de comparar ele a Ryodou Issei (High School DxD).

 

Outra prova do que está sendo dito aqui ser verdade é o caso do anime Shinmai Maou no Keyakusha (em inglês Shinmai Maou no Testament), a animação, que é do gênero ecchi, exagera até de mais no recurso que me pegava perguntando se não estava assistindo a um hentai. As cenas eram tão embaraçantes, que para ser exibido na TV japonesa necessitou de censura, que ficou mais forte no passar dos capítulos.

Por fim, o que aconteceu?

A produtora (Kadokawa) lançou uma versão em Blu-Ray para quem quisesse rever o anime, a  novidade: agora com censura zero!

A falta de temas, criatividades etc, vem levando a indústria da animação japonesa a ser colocada em xeque, Hideaki Anno está correto ao dizer que é preciso a aparição de roteiros interessantes para revitalizar o mercado e a arte.

Um artigo online fala que 2015 vem se concretizando no ano dos animes de idols, para quem não sabe idols são pessoas da mídia, alguém que todos passam a admirar, no caso dos animes, um personagem a ser observado e até imitado.

O maior destaque para essa referência é a deusa Hestia de DanMachi (me recuso a escrever o nome completo deste anime), mas os idols não são apenas isso. São personagem cheio de moe, às vezes são lolis, etc. Tudo muito “kawaii” se é que me entende!

 

(São idols demais para qualquer um!)

 

Quem concorda com Anno é outro mestre do assunto: Hayao Miyazaki. O “Senhor” dos Estúdios Ghibli, no ano passado ele concedeu um entrevista onde justamente falava sobre essa decadência da animação nipônica e entre tantas coisas ditas pelo mestre a mais marcante é o fato de que não há uma verossimilhança entre realidade e ficção.

Miyazaki diz que não é porque se trata de fantasia, que sentimentos, feições e ações não sejam iguais aos de um humano de verdade, para ele isso está sendo forjado e alterado pelas grandes produções.

Bom vimos que de certo ponto de vista (isso porque não vamos nos estender demais) Hideaki Anno está certo em alguns momentos ao afirmar sobre um colapso na indústria de animes. No entanto…

 

Furos

Hideaki Anno se esquece que toda indústria vive momento de estagnações e crises de produção criativa, mas não significa o fim! Perder o posto para outra frente de produção pode até ser aceitável, contudo acabar não acaba.

Um novo modelo será pensado mais à frente, Toda mídia de massa se resignifica diante de momentos de caos, no entanto é bom que ele, como um grande mestre nesse cenário, comece a pensar sobre o assunto, Assim mais e mais animadores farão o mesmo.

Institutos de pesquisas do Japão estão sempre aferindo a recepção dos animes no mercado/sociedade local e os dados levantados são sempre em projeções positivas e alegar que isso seria uma alteração do resultado verdadeiro seria admitir que há corrupção generalizada nessa indústria e se Hideaki Anno não afirma isso, deve-se então dar crédito às pesquisa.

Recentemente, a agência de investimentos SPARX (que é de iniciativa estrangeira) inquiriu nos nipônicos a respeito de que indústria fariam elevação econômica na nação nos próximos 10 anos. A resposta: animes e games.

Japoneses sabem da boa receptividade que estes produtos detêm fora de seus territórios ultramarinhos, o mestre Hideaki Anno parece se esquecer disso, seu Neo Genesis Evangelion é um grande referência em seu país, mas o tornou respeitado também fora dele e Anno se esquece que a indústria há muito tempo vem deixando de pensar apenas em agradar os “de casa” e procurando maneiras de se aproximar mais dos outros vizinhos da rua.

 

Aproveitando essa analogia comento a respeito de sua declaração de que Taiwan pode assumir o posto de líder da indústria de animes. Taiwan? Taiwan? A pequena nação na Ilha de Formosa é uma das mais ricas entre os Tigres Asiáticos.

Pesquisando se descobre o quão forte é sua relação com a mídia de animação, contudo isso me faz lembrar de um caso, Taiwan está entre um dos países do extremo asiático que possuem uma censura muito rígida, Lá por exemplo, em Sword Art Online, a cena em que a Asuna interpreta o pedido do Kirito de passar a noite com ela errado e tira a roupa foi completamente censurada!

Uma indústria em nada liberal como Taiwan pode assumir o posto tão rápido? Se criou um gosto nas pessoas, no caso Taiwan para se tornar líder teria que desfazê-lo, contudo: é possível dissociar elementos como o erotismo e o romance das narrativas de animes e eles serem os mesmos?

Aí ele fala de mudar técnicas de produção e cita computação gráfica e com toda a qualidade existente será que ele não viu Saint Seiya – Legendo of Sanctuary? (e olha que eu ache legal, mas dispensável), anime deve ter todas essas mudanças de traços mesmo mestre Anno?

 

(Mangakás sofrem na mão das editoras e perdem o poder de criatividade)

 

Vale lembrar que o fim do anime, seria o fim do mangá. Como? Não são mais da metade dos animes lançados por temporada adaptados de mangás? Se for assim, o problema está nos mangás e em seus enredos.

A reformulação tem que partir daí! Hideaki Anno se esquece desse detalhe.

É a indústria do mangá, com seus prazos curtos, pressão de editores e periodicidade infernal que limita os mangakás a serem criativo e se pretende lançar um mangá no Japão só há duas opções: Ou desenha tudo e vai em busca de financiamento, ou se escraviza para as editoras.

Yuu Kamiya (o mangaká brasileiro autor de No Game, No Life) vive isso na pele e  quem está acompanhando a light novel da NewPOP já deve ter visto nos posfácios os comentários que ele deixa sobre essa indústria.

O problema – repito -, não está nos animes, mas sim nos mangás! Se esse setor não se readequar, aí sim podemos dizer que os animes correm certo risco!

 

Conclusão

É isso! A Hikari tira todos do Tártaro e joga luz ao debate! Agora resta você opinar a respeito e então: Os animes estão com os dias contados ou isso é apenas faniquito de artista que acha que somente seu trabalho tem valor?

Você concorda que os animes devem inovar mais, ou do jeito que está tem que ficar?

Boa reflexão e  até a próxima!