Outro dia desses estava relembrando animes que já assisti. Isso sempre é bom. Além de ser nostálgico, me permite rever questões culturais e filosofias interessantes. E por isso apresento agora a primeira edição da série PERFIL, uma nova coletânea de publicações da Hikari.
Lembrei-me de Chrno Cruzade. Nada em especial. Um bom anime, com bom enredo, perspectivas de personagens bem construídos… Mas curioso por uma coisa que, tenho certeza, passou despercebido por quem assistiu.
O nome dessa curiosidade e tema edição #0001 da PERFIL é: Aion.
Sim, o vilão Aion é um caso curioso na narrativa de Moriyama Daisuke. Obcecado em conquistar a glória divina – tem uma relação eterna de inveja e ódio do Criador -, Aion tem o perfil do bom antagonista. É mau, é mau, é mau e tem um plano diabólico (a piada é sem graça mais está valendo!)
Para ser sincero, há muito tempo esse estereótipo de que o vilão, por ser o que é, tem que ser mau caiu em um grande limbo. George Lucas nos ensinou isso anos antes com Lorde Darth Vader, e grandes nomes da literatura fizeram o mesmo (Bran Strocker e seu Drácula; Herman Meville e sua baleia Moby Dick; Bernad Cornwell e o lendário Sir Lancelotte… a list é inesgotável!).
No mundo dos animes/mangás posso citar Freeza (Dragon Ball Z), Grimmjow Jeagarjaquez (Bleach)… temos outra lista gigante. São personagens cativantes, em alguns aspectos. Personalidades fortes, frases marcantes, petulância… Características que nos identificamos. No entanto, todos são maus!
O caso Aion é diferente. Chama-me a atenção uma única característica do pecador: a sedução. Se você reparar, Aion beija várias mulheres ao longo da série. Só é preciso ele sorrir, tomá-la nos braços, sussurrar o pé do ouvido e BAM! A intensidade do poder de sedução de Aion faz com que a protagonista Rosette Christopher seja beijada no mínimo umas quatro vezes por ele. O seu par romântico, Chrno, só consegue a façanha duas vezes. E nós nem chegamos a ver um beijo de verdade!!!
Está certo que Aion não ganha os beijos. Ele os rouba à força. As atitudes dele são tão estranhas, que há um episódio em que ele quase protagoniza um estupro. Um verdadeiro demônio. Então o meu questionamento: Por que Aion foi criado dessa forma? Por que um demônio cheio de luxúria?
Aion não é um Mr. Grey (sim, analogia com 50 Tons de Cinza!), mas ele é o tipo do dominador. Um frustrado que usa de sua libido para externar sua fúria. Infelizmente quem sofre nas mãos dele são as damas! Isso tem muito haver também com os ideais de fetiche japonêses. Os caras são cheios de desejos a serem revelados!
Aion é a personificação do bad boy dos anos 1920, início do século XX, que viveu a tensão pré-guerra e presenciou uma revolução do cinema com o sexo galgando os primeiros passos para o que vemos hoje.
Um símbolo da sodomia, o pecador Aion é curioso justamente por isso: considerando seu retrospecto como vilão, ele é um crápula nojento que abusa de mulheres. Mas é inegável que é dotado de uma elegância fascinante. O que quero dizer? Bom, ver o protagonista Chrno em sua forma de criança não desperta em ninguém a ideia de que ele e Rosette formem um belo casal (por mais que se sinta isso!). Coube ao vilão ser o centro sexual da narrativa.
A “luz” desta edição da Hikari é: Um vilão, por mais desprezível que possa ser tem a suas qualidades e importância. Aion me lembra muito vários personagens de GoT (Game of Thrones), um ser que só pensa em si e não abre mão disso. Símbolo sexual, Aion é necessário para um bom desenvolvimento da narrativa, que é escura devido a sua temática e período temporal.
Para as meninas um recado: Cuidado com os Aions espalhados pelo mundo. São lindos, mas também são diabólicos!!!